A Influência dos Fatores Psicógenos na Disfunção Temporomandibular
19/06/2010 17:30A Influência dos Fatores Psicógenos na Disfunção Temporomandibular
Raquel Ayres de Almeida
A disfunção temporomandibular compreende alterações clínicas na musculatura mastigatória, na articulação temporomandibular e suas estruturas, ou ainda em ambas. Assim, a DTM é qualquer alteração nos elementos componentes da ATM e estruturas adjacentes. Os principais sinais e sintomas são: dor na região da ATM, zumbido, ruídos ao movimentar a mandíbula como estalos, cansaço ao falar e mastigar alimentos duros, fadiga e sensibilidade muscular, limitação e desvios na abertura mandibular, bruxismo, entre outros.
Muito tem-se pesquisado acerca dos fatores psicógenos envolvidos na disfunção temporomandibular. Muitos autores afirmam que a DTM está relacionada com diversos problemas psicológicos especialmente com estresse, depressão e ansiedade, que agem tanto como fator predisponente quanto como fator agravante. Segundo Mongini e Ash et al (apud Caldana, Ferreira-Bacci & Fukusima, 2004), o estresse emocional pode ser também o responsável pela hiperatividade dos músculos da mastigação (caracterizada por bruxismo, apertamento de dentes e hábitos como mascar chicletes ou morder objetos), levando ao aparecimento das DTMs.
A articulação temporomandibular (ATM) é uma estrutura muito importante, estando relacionada com a comunicação entre as pessoas, expressão emocional e alimentação, que são fatores que interferem na qualidade de vida das pessoas. Assim, a DTM pode limitar o portador na interação social e na comunicação verbal, causando efeitos psicológicos, além da alteração do equilíbrio afetivo e cognitivo.
Mota, Bellomo Jr., Neves, Fernandes Neto e Simamoto (2003) e Bussadori, Moreira e Alencar Jr. (1998) afirmam que fatores psicológicos podem exacerbar a dor associada a uma desordem orofacial e perpetuar sintomas mesmo depois que a cura tecidual tenha ocorrido e que os fatores psicológicos desempenham um papel significante na DTM, contribuindo tanto para o aparecimento dessa alteração como também para sua perpetuação.
De acordo com Barros e Rode (1995), a maioria dos pacientes com quadro sindrômico agudo de disfunção da articulação temporomandibular é dominada por um estado de tensão psíquica, que tem muito a ver com a atividade que desempenha e/ou local de suas atividades, ou ainda crise pessoal. Eles citam estudos realizados sobre a importância dos fatores psicológicos na etiologia dos distúrbios temporomandibulares e apontam o estresse como um fator que desempenha um papel significativo na manifestação, desenvolvimento e manutenção desses distúrbios. Assim, a combinação de fatores oclusais e tensão psicológica aumenta significativamente o risco de um indivíduo desenvolver DTM.
Mongini (1998) cita o estresse como um dos fatores etiológicos mais elevados. Outros fatores psicológicos reais seriam ansiedade e depressão, sendo o último, mascarado por sinais de ansiedade livre ou somatizada. Em tais casos, bruxismo e outras parafunções representam um fenômeno colateral de um problema complexo que vai além da competência de um dentista, como a manifestação do estresse. O autor fala da importância de se suspeitar da coexistência de doenças sistêmicas concomitantes ou distúrbios de personalidade, de forma a triar os pacientes entre aqueles que devem requisitar colaboração de outros especialistas ou aqueles cuja intervenção poderia ser inadequada ou até prejudicial.
Steenks e Wijer (1996) também levam em consideração a influência do Sistema Nervoso e do psiquismo na DTM e citam como fatores contribuintes os sociais, psíquicos e econômicos, além dos fatores funcionais e anatômicos. Segundo os autores esses fatores interagem e sem um deles a DTM não ocorre. Eles citam ainda a importância da presença do psicólogo na equipe de saúde.
Estudos atuais demonstram a necessidade de uma assistência multidisciplinar ao paciente portador de DTM, na qual os profissionais envolvidos no tratamento compartilhem de uma visão biopsicossocial, uma vez que a experiência dolorosa envolve aspectos biológicos, emocionais e socioculturais.
Nem todos os casos tem uma relação direta com o aspecto emocional, mas este deverá ser sempre pesquisado, pois a dificuldade de adaptação pessoal ou social a certos fatores (como morte de uma pessoa significativa, dificuldades no trabalho, entre outros) causam conflitos, ansiedade e depressão, ocorrendo a exarcebação dos sintomas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Barros, J.J. & Rode, S.M. (1995). Tratamento das Disfunções Craniomandibulares – ATM. São Paulo: Antos.
Bussadori, C.M.C., Moreira, M.M.S.M. & Alencar Júnior, F.G.P. (1998) Fatores Psicológicos na Etiologia da Disfunção Craniomandibular. APCD. 52 (5), 377-81.
Caldana, R.H.L., Ferreira-Bacci, A.V. & Fukusima, S.S. (2004). Aspectos Psicológicos nas Disfunções Temporomandibulares: Dois Estudos de Caso. JBA. 4 (14), 33-8.
Mongini, F. (1998). ATM e Músculos Craniocervicofaciais: Fisiopatologia e Tratamento. São Paulo: Santos.
Mota, A.S., Bellomo Júnior, D.C., Neves, F.D., Fernandes Neto, A.S. & Simamoto Júnior, P.C. (2003). Disfunção Temporomandibular (DTM): Diagnóstico e Tratamento – Relatos de Caso Associado a Trismo. JBA. 3 (12), 283-90.
Steenks, M.H. & Wijer, A. (1996). Disfunções da Articulação Temporomandibular. São Paulo:Santos.
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