Depressão no Idoso

19/06/2010 18:22

 

Depressão no Idoso

 

 Raquel Ayres de Almeida

 

 A depressão consiste em enfermidade mental freqüente no idoso, associada a elevado grau de sofrimento psíquico. No idoso, a depressão tem sido caracterizada como uma síndrome que envolve inúmeros aspectos clínicos, etiopatogênicos e de tratamento. Quando de início tardio, freqüentemente associa-se a doenças clínicas gerais e a anormalidades estruturais e funcionais do cérebro. Se não tratada, a depressão aumenta o risco de morbidade clínica e de mortalidade, principalmente em idosos hospitalizados com enfermidades gerais.

As causas de depressão no idoso configuram-se dentro de um conjunto amplo de componentes onde atuam fatores genéticos, eventos vitais, como luto e abandono, e doenças incapacitantes, entre outros. Cabe ressaltar que a depressão no idoso freqüentemente surge em um contexto de perda da qualidade de vida associada ao isolamento social e ao surgimento de doenças clínicas graves.

Enfermidades crônicas e incapacitantes constituem fatores de risco para depressão. Sentimentos de frustração perante os anseios de vida não realizados e a própria história do sujeito marcada por perdas progressivas - do companheiro, dos laços afetivos e da capacidade de trabalho - bem como o abandono, o isolamento social, a incapacidade de reengajamento na atividade produtiva, a ausência de retorno social do investimento escolar, a aposentadoria que mina os recursos mínimos de sobrevivência, são fatores que comprometem a qualidade de vida e predispõem o idoso ao desenvolvimento de depressão.

O diagnóstico da depressão passa por várias etapas: anamnese detalhada, com o paciente e com familiares ou cuidadores, exame psiquiátrico minucioso, exame clínico geral, avaliação neurológica, identificação de efeitos adversos de medicamentos, exames laboratoriais e de neuroimagem. Estes são procedimentos preciosos para o diagnóstico da depressão, intervenção psicofarmacológica e prognóstico, especialmente em função da maior prevalência de comorbidades e do maior risco de morte.

Em pacientes idosos, além dos sintomas comuns, a depressão costuma ser acompanhada por queixas somáticas, hipocondria, baixa auto-estima, sentimentos de inutilidade, humor disfórico, tendência autodepreciativa, alteração do sono e do apetite, ideação paranóide e pensamento recorrente de suicídio. É importante ressaltar que nos pacientes idosos deprimidos o risco de suicídio é duas vezes maior do que nos não deprimidos. Os sintomas em geral, estão associados à presença de doenças físicas ou ao uso de medicamentos.

O aparecimento de transtornos depressivos em idosos tem sido considerado um fator de risco para o desenvolvimento posterior de processo demencial. Alguns estudos sugerem que 50% dos pacientes com depressão evoluem para quadro demencial num período de cinco anos. A comorbidade de depressão e demência contribui para o comprometimento de suas capacidades funcionais.

A depressão pode conduzir a alterações das funções cognitivas temporariamente, muitas vezes dificultando o diagnóstico diferencial entre este quadro e demência. Por outro lado, em muitos pacientes, o início de um processo demencial do tipo Alzheimer apresenta-se com sintomas depressivos. Além disso, há associação entre sintomas depressivos e comprometimento das funções cognitivas em idosos, com ou sem demência. Queixas de memória são comuns em pacientes deprimidos, sugerindo, tradicionalmente, o aparecimento do termo “pseudodemência depressiva”.

O tratamento: O tratamento da depressão no idoso tem por finalidade reduzir o sofrimento psíquico causado por esta enfermidade, diminuir o risco de suicídio, melhorar o estado geral do paciente e garantir uma melhor qualidade de vida. O tratamento da depressão, como também de outras doenças neuropsiquiátricas no idoso, constitui um desafio que envolve intervenção especializada. Dentre as estratégias de tratamento, a psicoterapia tem um papel fundamental: identificar os fatores desencadeantes da depressão e minimizar o sofrimento.

Inicialmente, há a necessidade da identificação de fatores que estariam desencadeando o surgimento de um processo depressivo, ou mesmo, agravando uma depressão já existente. Assim, é pertinente verificar se o paciente possui alguma doença clínica que esteja relacionada com a depressão e observar se o uso de algum medicamento (antiinflamatório, anti-hipertensivo, remédio para insônia, etc.) não estaria levando ao surgimento de sintomas depressivos. A seguir, convém investigar aspectos de natureza psicológica e psicossocial, como lutos, isolamento social, abandono e outros fatores que tendem a desencadear sintomas depressivos.

A intervenção psicoterapêutica, preferencialmente com profissionais especializados em idosos, ajuda a identificar os fatores desencadeadores do processo depressivo, contribuindo para a orientação dos familiares, dos cuidadores e do próprio paciente. Atividades do tipo terapia ocupacional, participação em atividades artísticas e de lazer também têm seu papel no tratamento do idoso deprimido.

A intervenção psicoterapêutica, particularmente indicada para idosos, é a modalidade denominada de psicoterapia breve. Esta modalidade, além de minimizar o sofrimento psíquico do paciente, ajuda o idoso deprimido a reorganizar seu projeto de vida. É uma terapia prospectiva, voltada para o presente e para o futuro,com duração, em geral, de seis meses.

O psicoterapeuta que se propõe a trabalhar com idosos deve estar familiarizado com os acontecimentos que cercam o processo de envelhecer, como fatores responsáveis, direta ou indiretamente, pelas dificuldades enfrentadas nessa fase da vida, como pressões e preconceitos sociais, doenças crônicas, a aposentadoria, saída dos filhos de casa, viuvez e perda de autonomia. Geralmente a depressão está relacionada a dificuldades em lidar com essas situações.

No atendimento ao idoso, o local de atendimento pode variar de acordo com as limitações dos pacientes, ou seja, quando há dificuldade de locomoção, por exemplo, o atendimento é realizado na residência do idoso.

Dentre os objetivos da psicoterapia, paralelos aos objetivos específicos referentes a cada sujeito, existem alguns objetivos gerais, como ajudar o cliente a superar as influências dos preconceitos sociais em sua auto-imagem e em suas expectativas de auto-eficácia; fornecer subsídios para que o cliente possa lidar melhor com seus problemas de saúde; orientar e facilitar a substituição de comportamentos desadaptativos por outros mais adequados que proporcionem bem-estar em todas as áreas de sua vida: relacionamento familiar, amoroso e com amigos; além da estimulação de realização de atividades.  


 

Referências Bibliográficas:

 

CHAIMOWICZ, F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do séc. XXI: problemas, projeções e alternativas. Revista de Saúde Pública. São Paulo, 1997, vol. 31, nº. 2, p. 180-200.  

 DSM-IV-TR. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Trad. Cláudia Dornelles. 4 ed. rev. Porto Alegre: Artemed, 2002.

 STOPPE, Jr. A. Características Clínicas da Depressão em Idosos. Em: FORLENZA, O.V., ALMEIDA, O.P. Depressão e Demência no Idoso: Tratamento Psicológico e Farmacológico. São Paulo: Lemos Editorial, 1997.

 

 

 

 

 

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