A Psicologia no Hospital

A Psicologia no Hospital

  

Raquel Ayres de Almeida

 

O hospital ainda é uma instituição marcada por situações extremas, por sofrimento, por dor e pela luta constante entre vida e morte e, no adoecimento potencializam-se angústias, medos, inseguranças, raivas, revoltas, não só para os doentes e familiares, mas também para o profissional de saúde, sempre preparado para a cura, mas em constante tensão diante da morte. (Bruscato, 2004).

Diante deste aspecto, a Psicologia Hospitalar surge em busca de resgatar o subjetivo em situações associadas ao adoecimento em instituições de saúde. Assim, um dos objetivos do psicólogo que atua nessa área é tentar minimizar o sofrimento do paciente e de sua família. O trabalho é focal, centrando-se no sofrimento e nas repercussões no paciente da doença e a hospitalização, associados a outros fatores como história de vida, forma como ele assimila a doença e seu perfil de personalidade. (Ismael, 2005).

Sabe-se que experiências tensionais da vida diária ajudam no desevolvimento de doenças crônicas e agudas, da mesma forma que, uma doença física está frequentemente associada a distúrbios emocionais ou psicológicos que, se não tratados, podem contribuir para seu agravamento e até sua cronificação. Portanto, quando se fala de um paciente hospitalizado, não se devem excluir os processos emocionais e sociais na tentativa de compreender e diagnosticar a doença, desde sua instalação até o seu desenvolvimento. (Ismael, 2005; Romano, 1999).

Tratar a doença implica uma série de ameaças: à integridade física, à auto-imagem, ao equilíbrio emocional e ao ajustamento a um novo meio físico e social. O ambiente hospitalar, o tratamento e a manipulação do paciente por pessoas desconhecidas agridem-no tanto física quanto emocionalmente. O impacto do adoecimento gera reações que podem ser patológicas ou não, variando com a personalidade do paciente e sua capacidade de adaptação nesse processo de doença e internação. (Ismael, 2005).

Segundo Romano (1999), a importância da presença de um psicólogo no meio hospitalar foi reconhecida quando os médicos e profissionais de saúde se deram conta de que há um lado “obscuro, inconsciente” que gera conflitos e queixas, que complicam evoluções e reduzem a eficácia terapêutica. Perceberam, então, que os aspectos emocionais podem alterar as reações e habilidades, modificando a aderência ao tratamento e possibilitando a tomada de decisões que influenciam as chances de sobreviver. Outro aspecto que incorporou a necesidade de compartilhar o espaço hospitalar com o psicólogo foi a exigência crescente da humanização aos cuidados recebidos, que se refere a dois enfoques: condições de trabalho e dispensação de cuidados ao doente.

O trabalho em hospitais se diferencia de todos os outros nos quais o psicólogo atua. A começar pelo espaço físico que é tumultuado e de domínio do médico, dificilmente há privacidade para um atendimento psicológico, não só pelas lotações das enfermarias, mas também pelas freqüentes interrupções de outros funcionários, como enfermeiros e técnicos, que precisam seguir com a rotina do hospital. Dessa forma, muitas vezes o atendimento é realizado na presença de outras pessoas. Outra característica importante, e talvez a mais importante para este trabalho, é o tempo disponível para atendimento, visto que o paciente internado receberá alta, não havendo continuidade no tratamento psicológico. Esse tempo varia com a duração da internação, que pode ser dias, semanas ou meses, dependendo da gravidade e da cronicidade do caso. Esse tempo pode ainda ser um tempo para recuperação da saúde ou um tempo de morrer.

Há outra modalidade de atendimento em hospitais que difere dos atendimentos em enfermarias e quartos. São os atendimentos clínicos ambulatoriais. Nesses atendimentos, geralmente o psicólogo possui uma sala para realizar o atendimento. Dessa forma, a questão da privacidade é mantida, mas a duração da sessão é reduzida, se comparada com a clínica particular, variando de 20 a 40 minutos, dependendo da instituição. Nesses casos, o tempo de tratamento é mais prolongado e o paciente é atendido semanalmente, durante meses ou anos. Entretanto, diante da escassez de oportunidades de atendimentos públicos para a população, as instituições que oferecem esse tipo de atendimento geralmente possuem uma fila de espera, evidenciando a demanda crescente de necessitados.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

Angerami-Camon, V.A. (org). (2002). Psicologia da Saúde: Um novo significado para a prática clínica. Pioneira: São Paulo

Angerami-Camon, V.A. Psicologia hospitalar: passado, presente e perspectivas. In V.A. Angerami-Camon, H.B.C. Chiattone, E.A. Nicoletti. (2004). O doente, a psicologia e o hospital. (3. ed.). Pioneira: São Paulo.

Angerami-Camon, V.A., Chiattone, H.B.C. & Nicoletti, E.A. (2004). O doente, a psicologia e o hospital. (3. ed.). Pioneira: São Paulo.

Angerami-Camon, V.A. (org). (2006). Psicologia Hospitalar: teoria e prática. Pioneira: São Paulo

Bruscato, W.L. A psicologia no Hospital da Misericórdia: um modelo de atuação. In W.L. Bruscato; C. Benedetti & S.R.A. Lopes (org). (2004). A prática da psicologia hospitalar na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo: novas páginas em uma antiga história. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Bruscato, W.L.; Benedetti, C. & Lopes, S.R.A. (org). (2004). A prática da psicologia hospitalar na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo: novas páginas em uma antiga história. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Ismael, S.M.C. A inserção do psicólogo no contexto hospitalar. In S.M.C. Ismael (org). (2005). A prática psicológica e sua interface com as doenças. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Romano, B.W. (1999). Princípios para a prática da psicologia clínica em hospitais. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Simonetti, A. (2004). Manual de Psicologia Hospitalar: o mapa da doença. São Paulo: Casa do Psicólogo.