O Psicólogo no CTI
Raquel Ayres de Almeida
Segundo a Portaria 1071 de 04/07/2005 da Política Nacional de Atenção ao Paciente Crítico, o CTI é um local de grande especialização e tecnologia identificada como espaço laboral destinado a profissionais médicos e de enfermagem com grande diferenciação de conhecimento, grande habilidade e destreza para a realização de procedimentos que, em muitos momentos, representam a diferença entre a vida e a morte.
Como unidade fechada que se dedica ao tratamento intensivo de pacientes com problemas graves e com conseqüente restrição ao seu acesso, o CTI tem como características uma rotina de trabalho acelerado, clima de apreensão, serviço constante e situação de morte iminente. Esta aparece ao lado do sofrimento como o grande estereótipo vinculado ao CTI que inunda o imaginário de pacientes e familiares.
De acordo com a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), as unidades de terapia intensiva têm como objetivo dar suporte à vida e como citado anteriormente, médicos e equipe de enfermagem compõem o quadro principal de profissionais da unidade. Porém, outras áreas de saúde foram inseridas como importantes auxiliares do tratamento do paciente crítico, incluindo-se a Psicologia.
Como objetos de atenção da Psicologia no CTI têm-se uma tríade constituída de: paciente, família e equipe de saúde, onde todos estão envolvidos na mesma luta, porém compondo ângulos diferentes no processo (Sebastiani, 1994).
O paciente deve ser avaliado em sua totalidade levando em consideração seu sofrimento físico e emocional. Independente do quadro clínico, o paciente internado no CTI apresenta grande impacto psicológico frente à ameaça à vida e de sua integridade. Dor, ansiedade, perdas concretas e perdas possíveis além do medo da morte, constituem a realidade deste paciente.
Além do paciente, a família constitui outro ângulo da tríade. O processo de internação de um familiar caracteriza um momento de crise onde sentimentos ambivalentes e confusos de raiva, desapontamento, desamparo, impotência, culpa e abandono se fazem presentes. O medo e a ameaça de morte iminente, o surgimento de dúvidas, além de um ambiente novo e desconhecido, desencadeiam reações psicológicas que não podem ser ignoradas uma vez que a família é o vínculo de vida para o paciente.
Junto ao paciente e à família atua a equipe de saúde que tem o médico como personagem central. Sua atuação é permeada de expectativas que são depositadas pelo paciente, pela família, e pelo próprio profissional. Médicos e equipe de enfermagem estão expostos a grande estresse característico do ambiente onde desenvolvem seu trabalho, além de se depararem com a questão da finitude.
O psicólogo no Centro de Terapia Intensiva deve estar atento a todos esses fatores. Seu objetivo com o paciente e com a família é diagnosticar seu estado emocional, estimular o vínculo do paciente com o tratamento, auxiliar no enfrentamento da dor, do sofrimento, da angústia e da morte, orientar sobre questões práticas e minimizar os agentes estressores e negativos que retardam a reabilitação do paciente. Junto à equipe de saúde, o psicólogo tem como função assegurar-lhes informações sobre a família e o doente que possam vir a interferir no tratamento. Além disso, deve promover o fortalecimento do vínculo paciente- família- médico, intermediando as comunicações que possam estar dificultadas. Cabe também ao psicólogo identificar as demandas emocionais da equipe de saúde visando o acolhimento destas.
Para que essas funções possam ser realizadas é necessário que o profissional de psicologia tenha disponibilidade interna, conhecimento técnico- científico capacidade de trabalhar em equipe, tendo como objetivo final a promoção de bem estar através de programas de humanização.