Psicologia do Esporte: Uma ciência a serviço da performance e saúde!
Aline Arias Wolff
A Psicologia do Esporte e do Exercício é uma sub-área da psicologia que trata das questões ligadas ao envolvimento dos indivíduos em situações de exercício ou competição de diferentes formas. A APA (American Psychological Association) a define em três divisões:
- como o estudo dos fatores comportamentais que influenciam e são influenciados pela participação e desempenho no esporte, exercício e atividade física;
- como a aplicação do conhecimento adquirido através deste estudo para a situação cotidiana;
- como o estudo de como os participantes de esportes, exercícios e atividade física podem melhorar o desenvolvimento pessoal, bem-estar e a saúde mental ao longo da vida.
A Psicologia do Esporte e do Exercício, como se pode perceber, é uma ciência ampla e que busca essencialmente o desenvolvimento de pessoas submetidas a exercício, atividade física ou esporte propriamente dito, com foco em duas questões centrais: performance e saúde. A Psicologia do exercício irá auxiliar na adesão a programas de exercício, na construção de estilo de vida ativo, através de diversas estratégias e terá como público alvo desde pessoas que queiram se engajar em um programa de exercício a pessoas cardíacas, obesas que tenham o exercício como recomendação médica.
Já a Psicologia do Esporte se envolve com o esporte de alto nível, em que a busca pela vitória é algo constante e o esporte adquire um status profissional, muitas vezes funcionando como uma organização. Os indíviduos buscam a ajuda de um profissional da psicologia do esporte para otimizar a performance, para ajudá-los a superar obstáculos que os estão impedindo de atingir o máximo do potencial e para facilitar o funcionamento de uma equipe esportiva, através do fortalecimento da coesão grupal e da própria relação intragrupo. Dentre as diversas dificuldades que o trabalho de psicologia do esporte pode auxiliar, as mais comuns são: controle da ansiedade e do stress competitivo, atenção, foco e concentração, liderança, coesão grupal, além da autoconfiança e motivação.
O profissional especializado tem muito a contribuir dentro da organização esportiva. Infelizmente, seu espaço e forma de atuação ainda não estão bem compreendidos em nosso país. Existe uma visão, ainda deturpada, do psicólogo como um profissional clínico, que utiliza divã e conversa sobre problemas. Quando conversa. O papel do psicólogo esportivo é totalmente diferente desse clichê.
O comum e o certo é ver o(a) psicólogo(a) adaptado ao ambiente do esporte, acompanhando os treinos e competições, calçando tênis, usando abrigo, falando a língua do esporte e dos atletas com quem trabalha. Essa imagem ainda precisa ser aceita pelo esporte e pelas pessoas em geral pois só dessa forma integrada e participativa é que os objetivos do treinamento mental conseguem ser alcançados.
Pelo fato da Psicologia ter demorado para se apropriar da Psicologia do Esporte, a Educação Física de forma muito competente, diga-se de passagem, foi a pioneira nos estudos em psicologia esportiva, sobretudo no cenário internacional. Ainda existem muitos pesquisadores oriundos da Educação Física que somam e enriquecem o campo de atuação. Rubio (2003) comenta que ainda que argumentos corporativistas sejam usados para distanciar psicólogos e educadores físicos, a interdisciplinaridade exigida pela área é um fato e vários são os estudos, principalmente os aplicados, realizados pelos estudiosos da Educação Física ao longo dos últimos anos que indicam essa tendência. Em torno disso, entretanto, existe uma polêmica, extensiva ao cenário internacional, sobre se os profissionais não psicólogos podem atuar e intervir com estratégias psicológicas.
Posiciono-me de forma contrária, não por corporativismo, mas pelo simples fato de que um olhar treinado é necessário para identificar demandas que necessitam de intervenções imediatas ou ainda para dominar técnicas que envolvam processos psicológicos. Saber manejar tais questões é fundamental. Acredito que no campo da intervenção os profissionais devam ser psicólogos devidamente habilitados e especializados, com conhecimento relacionados as especificidades do esporte em que atua: fisiologia do exercício, teoria do treinamento, entre outros. Cabe aos dirigentes e técnicos selecionar criteriosamente os profissionais que irão conduzir esse tipo de trabalho para não correrem o risco de contratar um profissional que tente adaptar a psicologia clínica ao esporte ou um profissional que tente fazer psicologia sem conhecimento consolidado para isso. Isso seria o mesmo que contratar um técnico de esgrima para treinar um time de futebol.
Infelizmente o Brasil ainda é muito carente de cursos de especialização em psicologia do esporte e raras são as universidades que contam com programas de pós-graduação nessa linha de pesquisa. Ainda assim, existem excelentes profissionais atuando e fazendo a diferença nas instituições que atuam. Entretanto, muitas são as instituições esportivas e atletas que nunca contaram com um trabalho psicológico orientado para resultados, realidade que vem diminuindo paulatinamente. Espero, em tempos de Jogos Olímpicos vindouros e Copa do Mundo, que o esporte brasileiro se aproprie definitivamente da psicologia como um recurso na busca por vitórias.
Bibliografia:
Becker Junior, B.; Samulski, D. (1999) Manual do Treinamento Psicológico para o Esporte. Feevale.
Brandão.M.R.F. Fatores de stress em jogadores de futebol profissional. 2000. 185 f. Tese de Doutorado apresentado a Faculdade de Educação Física, área de concentração Ciências do Esporte da Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Cratty, B.J. (1984) Psicologia no esporte. Rio de Janeiro : Prentice – Hall do Brasil.
Rubio, K. (org). (2003). Psicologia do esporte aplicada. São Paulo : Casa do psicólogo.
Rubio, K. (org). (2000). Encontros e Desencontros: descobrindo a psicologia do esporte. São Paulo: Casa do Psicólogo,
Samulski, Dietmar. M. (2002). Psicologia do Esporte. São Paulo: Editora Manole.
Weinberg,R.S; Gould, D. (2001) Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. Porto Alegre: Artes Médicas.