UFRJ é eleita centro de referência nacional para o tratamento da dislexia

 Ambulatório de Transtornos da Língua Escrita ampliará sua atuação a partir de incentivo de ONG

Thiago Etchatz

 

O Instituto ABCD, braço nacional de organização não-governamental inglesa dedicada ao atendimento e ao incentivo às pesquisas na área de dislexia, elegeu o ambulatório de Transtornos da Língua Escrita da Graduação em Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina (FM/UFRJ) - localizado no Instituto de Neurologia Deolindo Couto (INDC/UFRJ) - como um dos cinco centros de referência nacional para prevenção, diagnóstico e tratamento da dislexia. Durante três anos, o instituto disponibilizará recursos financeiros e apoio técnico para a ampliação e qualificação do agora Centro de Referência de Distúrbios de Aprendizagem e Dislexia da UFRJ.  

Em 2009, o recém fundado Instituto ABCD lançou edital para selecionar e fomentar cinco centros de referência do Brasil na área de distúrbios de aprendizagem e dislexia. A primeira etapa da seleção consistiu na entrega de cartas de interesses pelas entidades candidatas. Em seguida, os oito projetos aprovados foram avaliados, sem serem identificados pelo nome, pelo comitê consultivo composto pelos maiores especialistas em dislexia do mundo: Hugh Catts (University of Kansas/EUA), Linda Siegel (University of British Columbia/Canadá ), Leonard Katz (University of Connecticut/ EUA), Margaret Malpas (British Dyslexia Association/ Reino Unido) e José Morais (Université Libre de Bruxelles/Bélgica) . 

Na última fase, a seleção foi realizada por um comitê consultivo brasileiro formado por profissionais de diferentes áreas como jornalistas, empresários, professores. Eles avaliaram os benefícios dos projetos diante das necessidades da sociedade. Então, no último mês de abril foram escolhidos os seguintes centros de referência: o ambulatório de Transtornos da Língua Escrita da UFRJ - única entidade de fora do estado de São Paulo - a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, a Unesp de Marília/Botucatu, o Instituto Cefac (Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica) e a Faculdade de Medicina do ABC.   

O projeto 

De acordo com Renata Mousinho - mestre e doutora em Linguística e coordenadora do Projeto do Centro de Referência de Distúrbios de Aprendizagem e Dislexia da UFRJ - o trabalho desenvolvido no Instituto de Neurologia Deolindo Couto atuará em cinco frentes: prevenção, diagnóstico, atendimento, apoio aos pais e capacitação de professores. “O projeto está em via de ser assinado, falta apenas uma questão burocrática entre a UFRJ e o Instituto ABCD”, diz a coordenadora.  

O trabalho de prevenção é o único no qual a participação é restrita. Ele é feito junto com o Colégio de Aplicação da UFRJ (CAp/UFRJ). “Uma turma é atendida desde que entrou na escola e continuará até finalizar o curso. As crianças que apresentam risco de dislexia ou distúrbio de aprendizagem participam de oficinas de linguagem e estimulação pedagógica. Se de fato apresentam alguma dificuldade recebem o atendimento propriamente dito. Também é feito contato o tempo inteiro com os professores para orientá-los como lidar com os alunos”, explica Renata.  

As demais áreas do projeto são abertas ao público, mas haverá prioridade para alunos e professores da rede pública. Segundo Mousinho, a dislexia é um problema específico de leitura. As crianças e adolescentes não conseguem relacionar o som e as letras de uma forma automática. E por causa disso possuem dificuldades escolares.  

Portanto, no diagnóstico está o grande diferencial do centro de referência da UFRJ. “Teremos um primeiro momento de diagnóstico aonde são feitas avaliações interdisciplinares com neuropediatra, fonoaudiólogo, psicólogo e psicopedagogo. Depois dessa avaliação, os que realmente tiverem risco de dislexia e distúrbio de aprendizado vão passar por seis meses de estimulação pedagógica e de atuação dentro das oficinas de linguagem. Em seguida, serão reavaliados e aí sim poderemos determinar quem de fato tem risco de ser disléxico, com uma hipótese diagnóstica, pois eles terão tido um tempo de estimulação pedagógica para retirar a variável pedagógico-social”, analisa a doutora.  

Ainda serão desenvolvidas ações de intervenção e acompanhamento com crianças com distúrbios de aprendizagem, em especial, dislexia da Área Programática do SUS 2.1 (que abrange bairros da orla marítima e zona sul do Rio de Janeiro, contemplando as comunidades da Rocinha e Vidigal), além da orientação dos seus pais. A capacitação de professores ocorrerá com a realização de cursos semestrais, em parceria com a Associação Nacional de Dislexia, participação em seminários, congressos e simpósios, em parceria com as “Oficinas de Leitura e Escrita” do Instituto de Psicologia da UFRJ.  

“Com a ajuda do Instituto ABCD o projeto foi largamente ampliado. Até agora acontecia apenas um serviço de avaliação que era estritamente fonoaudiológica e não interdisciplinar. Antes não podíamos por falta de mão-de-obra. A prevenção já existia e será ampliado dentro do CAp. O apoio aos pais começou agora e a capacitação dos professores será ampliada. Antes só tínhamos a cada três anos esses cursos que agora serão semestrais e anuais. Teremos a possibilidade de atender mais crianças. O tempo inteiro teremos reuniões e oficinas para conversarmos entre esses cinco centros de referência nacionais, além de encontros com centros mundiais que o instituto trará”, revela Renata Mousinho.  

Serviço 

Os interessados em participar do projeto devem ligar para o telefone (21) 3873-5609 e agendar visita para o processo de triagem. Ele é realizado as segundas e quartas-feiras, das 8h às 12h, no Serviço de Fonoaudiologia do Instituto de Neurologia Deolindo Couto (Avenida Venceslau Brás, 95, Campus da Praia Vermelha).