Tratamento Psicológico da Obesidade

25/07/2011 19:35

Raquel Ayres de Almeida

  

A prevalência da obesidade vem aumentando em vários países, sendo considerada atualmente como uma epidemia de grandes proporções e um grave problema de saúde pública (Sichieri & Souza, 2006; Duchesne, 2001).Segundo dados da Pesquisa Nacional em Saúde e Nutrição (PNSN) realizada pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN) com mais de 60.000 pessoas no Brasil, cerca de 27% dos homens e 38% das mulheres apresentam sobrepeso ou obesidade (INAN, 1991).   

Entre os fatores associados ao aumento de sobrepeso/obesidade, pode-se destacar duas vertentes: a do consumo, com a disponibilidade de alimentos gordurosos e ricos em energia, e a do gasto energético, com o baixo incentivo e encorajamento para a realização de atividades físicas (Sichieri & Souza, 2006).

O tratamento da obesidade constitui um dos grandes desafios da prática médica. A obesidade é fator de risco para diversas patologias, tais como doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão arterial, dificuldades respiratórias, distúrbios do aparelho locomotor e dislipidemias. Além da alta prevalência de comorbidades clínicas associadas ao excesso de peso, há ainda um comprometimento funcional e psicológico do obeso, o que torna a obesidade um problema de diversos profissionais de saúde e não apenas do médico (Duchesne, 2001; Moreira & Benchimol, 2006).

 Um tratamento efetivo para obesidade deve contemplar uma mudança radical no padrão alimentar e na prática da atividade física. E para essas mudanças, muitas vezes apenas a intervenção médica não é o suficiente. O tratamento da obesidade deve ser multidisciplinar, visto que o tratamento medicamentoso não fornece resultados satisfatórios a longo prazo sem uma mudança completa dos hábitos do paciente. Dessa forma, o tratamento da obesidade deve ser baseado em quatro tipos de intervenção: orientação nutricional, orientação sobre a prática de atividade física, implementação de alterações comportamentais e tratamento farmacológico (Moreira & Benchimol, 2006).

As mudanças no estilo de vida são os pilares do tratamento da obesidade e são possíveis com a ajuda de importantes alterações comportamentais. A Terapia Cognitivo-Comportamental é a modalidade mais pesquisada no tratamento da obesidade e apresenta diversas técnicas comprovadamente eficazes para seu tratamento (Duchesne, 2001; Moreira & Benchimol, 2006). Pesquisas recentes apontam para a eficácia da terapia cognitivo-comportamental frente aos transtornos alimentares, favorecendo a diminuição ou remissão de episódios de compulsão alimentar, dos comportamentos purgativos e da restrição alimentar. Além disso, as estratégias psicoterápicas desta abordagem melhoram significativamente o humor, o funcionamento social e diminuem consideravelmente a preocupação com peso e formato corporal.

 Os ganhos obtidos pelo paciente são muitos e a melhora é mantida a longo prazo. Isto acontece porque o paciente participa ativamente do processo terapêutico e com o passar do tempo passa a ser o seu próprio terapeuta, colocando em prática as estratégias aprendidas até então.

A principal intervenção é baseada em alterações no comportamento, com o objetivo de diminuir o consumo calórico e aumentar o gasto energético. As principais técnicas utilizadas são automonitoramento, estabelecimento de metas, nutrição, exercício, controle de estímulos, solução de problemas, reestruturação cognitiva e prevenção de recaídas (Berkel et al. 2005).

A chamada Reestruturação Cognitiva é uma estratégia importante para a modificação de pensamentos distorcidos sobre alimentação, vontade de comer, peso, forma física. Estes pensamentos distorcidos acabam sabotando as tentativas de manutenção de uma programação alimentar adequada e dificultando a modificação de hábitos de vida, necessárias para atingir os objetivos propostos, por isso devem ser investigados e reestruturados. Além disso, os pacientes recebem textos informativos sobre o funcionamento da terapia e sobre a queixa trazida, a partir daí, identificam possíveis gatilhos que os fazem “sair da linha”, passam a desenvolver e respeitar um planejamento alimentar, desenvolvem hábitos alimentares mais saudáveis, ampliam a percepção sobre as sensações de fome e saciedade, monitoram suas atividades diárias (incentivados a incluir atividade física, atividade mental e descanso/lazer), fazem experimentos comportamentais para testar a realidade, aprendem técnicas de relaxamento, desenvolvem habilidades para solucionar problemas de forma mais rápida e prática.

 

Referências Bibliográficas:

Sichieri, R., & Souza, R. A. G. (2006). Epidemiologia da Obesidade. In M. A. Nunes, J. C. Appolinario, A. L. Galvão & W. Coutinho. Transtornos Alimentares e Obesidade, (pp.251-163). 2. Ed. Porto Alegre: Artmed.

Duchesne, M. (2001). O consenso latino-americano em obesidade. Ver. Bras. Ter. Comport. Cogn., 03, 02, 00-00.  

Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição. (1991). Condições Nutricionais da População Brasileira: Adultos e Idosos. In Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição. Brasília: INAN.

Moreira, R. O., & Benchimol, A. K. (2006). Princípios Gerais do Tratamento da Obesidade. In M. A. Nunes, J. C. Appolinario, A. L. Galvão & W. Coutinho. Transtornos Alimentares e Obesidade, (pp.289-298). 2. Ed. Porto Alegre: Artmed.

Berkel, L. A., Poston, W. S. C., Reeves, R.S, & Foreyt, J. P. (2005). Behavioral Interventions for Obesity. J. Am. Diet. Assoc. 105, 35-43, Suppl. 1.

 

 

 

 

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